A (IM)POSSIBILIDADE DO GESTO COLETIVO - Sobre Voo Livre - Futuros da Cia. Brasileira
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
O presente é resultado de uma tensão entre o passado e o futuro, parece nos indicar a Cia Brasileira ao partir de uma obra russa do final do séc XIX para propor ações para o nosso futuro, brasileiro e do séc XXI. Avós, mães,pais e ancestrais interferem a partir de áudios e vídeos para dialogar com atrizes e atores que em um palco sobre o palco pesquisam gestos que mudem o presente para um que o futuro não seja o fim do mundo. Contudo, da mesma forma em que na Gaivota vemos personagens em aparente diálogo mas isolados em seu monólogos interiores, aqui diferentes artistas apresentam suas cenas mas sem relacionarem-se.
Utilizando-se de quatro telões de LED e vários microfones, a Cia Brasileira constrói uma encenação aparentemente contemporânea. Mas organizando-se através de uma sequência de discursos de cada atriz/ator, o espetáculo reencena o isolamento tchekhoviano. Todavia, há uma diferença: na Gaivota, o isolamento é problematizado, criticado como raíz do imobilismo de uma classe média decadente; já em Voo Livre - Futuros, a figura melancólica de Trepliev e seu teatro simbolista são positivados, tidos como exemplo para sujeitos de contextos muito diversos do que a Rússia do séc XIX. Assim é possível que essa personagem de Tchékhov se torne uma manifestação de Exu ou um exemplo para um teatro anti-antropocêntrico, como pontuam alguns dos discursos
Formado por um elenco diverso, o Voo Livre organiza no palco uma ideia de diversidade que é a soma de identidades isoladas, e não como o resultado sempre conflitivo das interações sociais. Assim, os discursos postos em sequência não se contradizem, nem estão em disputa. Parece que todos concordam uns com os outros, incluindo o público, que concorda, aplaude, mas que quando questionado se é capaz de criar um gesto radical permanece imóvel. Imobilidade criticada por uma das atrizes, mas que em sua cena não é capaz de superar, girando em torno do problema. Entrando em contradição com sua própria proposta, Voo Livre - Futuros explicita os limites do isolamento em cena, mostrando que discursos são incapazes de produzir gestos.

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