Acordos escondidos |a partir de “Sobre o velho novo costume” do Coletivo Inversão
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
Velhos acordos vão morrer. Novos vão surgir. Esses novos acordos vão se tornar velhos e depois morrer também. Essa nossa dinâmica humana de falsos consensos é bastante explicitada na montagem de « Sobre o velho novo costume », encenação da peça didática « Aquele que diz sim, aquele que diz não » de Brecht pelo Coletivo Inversão, Núcleo de Pesquisa da Escola Municipal de Teatro de Primavera do Leste (MT).
Uma pergunta ficou ecoando comigo: « É junto, mas é separado, como sabemos que os acordos sempre são e o que escondem ». Isso me lembrou Chantall Mouffe e como a essência da sociedade existe no conflito. O consenso é uma falácia e, a partir da peça, conseguimos entender que escolhas são feitas o tempo todo, manter o velho costume ou criar um novo. O discenso existe aí, na explicitação do que foi negado e excluído.
O coletivo inversão apresenta para a gente uma encenação que usa as palavras de Brecht em uma linguagem contemporânea, com músicas como « Home » de Edward Sharpe & the Magnetic Zeros, transições com músicas eletrônicas, uma mesa de DJ presente no palco, uso de artifícios remanescentes do teatro online pandêmico e fitas de LED que transformam o espaço cênico.
É importante vermos jovens tomando um texto para si, fazendo-o seu e explorando o que ele pode nos dizer. Vai muito além de jogar ou não uma pessoa em um abismo por estar doente e prejudicar a missão. É sobre coletividade, democracia, tradições e o que nelas deve ser valorizado e o que deve ser abandonado, sobre brincar com a forma inclusive relacionando-a com o que vivemos na pandemia, momento em que a necropolítica brasileira do desgoverno ficou absurdamente evidente.
O último momento da peça são todos os atores olhando para a plateia e em uníssono falando « Não! Nós não estamos de acordo com o velho costume ». Não estaremos de acordo, criaremos novos, e em breve nossos acordos serão ultrapassados, porque eles precisam ser. E de forma alguma isso é não valorizar o que já veio, mas é entender que a hegemonia é sempre excludente, ela vai sempre querer se firmar e vai sempre precisar ser revista.

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