AGROPEÇA do Teatro da Vertigem
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
Essa é uma peça na qual, desde o começo, é anunciado o momento de dizer “CHEGA”. Uma peça na qual vemos o desenrolar de para quem e para o que é necessário dizê-lo. Esse desenrolar esbarra no risco de tentar abarcar tudo de uma só vez, movimento típico do processo colaborativo, mas consegue se salvar.
Essa é uma peça de revolta, uma peça de tomar a palavra e deixar explícito, dar um banho de água fria, em todo conservadorismo semeado pela branquitude. O monólogo de Saci sobre o pirlimpimpim como o pó do esquecimento, o pó de quem morreu para que a “roda girasse”, o pó da demolição, inicia a obra, evidencia sobre o que se deseja falar e é perfeitamente amarrado pela cena de Saci chamando o boi que daria cabo a Pedrinho.
São vários momentos “chegas”, todos bem pensados e alguns trazendo contradições preciosas das personagens, como é o caso do “chega” de Narizinho, que logo se revela como um “chega” egoísta e seletivo para um feminismo branco e neoliberal.
É interessante observar como a ideia de construção do rodeio é uma ótima demonstração de como o conservadorismo se mantém nas suas próprias estratégias de renovação. Pedrinho traz a ideia para comemorar os 103,333,458 anos do Sítio, com uma proposta inovadora para revivê-lo, mas é apenas uma desculpa, mais uma forma de se manter no poder.
O movimento que o Teatro da Vertigem reverbera na plateia, com essa obra, é de uma dramaturgia do riso. É possível sentir a mudança de ares de uma plateia, que começa gargalhando, admirada e incrédula com a premissa da obra, mas que aos poucos vai ficando engasgada com a poeira do tapete levantado de uma história sobre a qual não paramos para pensar.
É interessante observar em quais momentos, depois de engasgados, voltamos a gargalhar, caso da aparição da Senadora Benta XVI. Soltamos um riso do ridículo, um riso do absurdo, um riso pouco crítico, uma vez que: Não é essa ainda nossa realidade? Não temos ainda Senadoras Bentas no poder? Esse movimento de ridicularização dessas figuras, de descrença no discurso que elas pregam, de reafirmação da farsa quando o que vem depois dela pode ser assustador, foi o que por 4 anos nos deixou sem respirar e que, apenas recentemente, e por muito pouco, conseguimos escapar. Já é possível rir disso como se fosse um capítulo a ser esquecido? É possível esquecer? Ou não é justamente esse o grande problema do Brasil? Sua memória falha e absolutamente seletiva.
Outro ponto especial é o da própria estrutura do Rodeio, tão poderosa e impositiva que mesmo depois que Anastácia, Emília e Saci o tomam para si, ela insiste em se manter inalterada, com shows e dancinhas que irrompem no meio da subversão e obrigam todos ali a embarcarem nisso. Isso parece evidenciar que, embora a peça seja praticamente toda composta de cenas individualizadas sobre figuras específicas, o conservadorismo que existe nelas está imbricado na estrutura desse nosso país, no pacto da branquitude, nos acordos mascarados desse Brasil.
Como sair disso? O Teatro da Vertigem não se atreve a responder, mas ele se permite sonhar, com a cena final, com a possibilidade de algo diferente, para que, em breve, “não

vejamos mais o mesmo país”.
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