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AS FERRAMENTAS DO SENHOR PODEM DESTRUIR A CASA GRANDE? - a partir de “Ori: o sentido de re-existir”, do Teatro em Trâmite

  • Foto do escritor: capivara crítica
    capivara crítica
  • 28 de abr.
  • 2 min de leitura

Em 1979, a escritora Audre Lorde respondeu negativamente à pergunta posta no título. Para ela, a apropriação de dispositivos coloniais por grupos colonizados, com o objetivo de combater os colonizadores, apenas garantiria resultados parciais, mas nunca uma mudança radical nas estruturas sociais. Como essa dinâmica pode se estabelecer nas Artes Cênicas? E como as/os artistas têm respondido essa questão?


Ao se apresentar em um palco italiano do Itaú Cultural, o espetáculo “Ori” se inscreve nessa problemática, uma vez que trabalha a partir de materiais vindos de terreiros de umbanda de Santa Catarina. Através de textos poéticos, danças, defumações e passes, a atriz pretende instaurar um processo de cura, propondo perguntas que convidem a plateia para escutar. A leveza dos gestos e o sorriso nas falas desmistificam o imaginário brasileiro de que as religiões de matrizes africanas estariam vinculadas à práticas violentas. A peça positiva os procedimentos religiosos apontando-os como ferramenta de emancipação.


Contudo, um palco vazio nunca está vazio, mas sim carregado de uma tradição teatral que instaura relações específicas, opostas àquelas praticadas nos terreiros. A começar pela distância entre palco e plateia, que dificulta a visualização das plantas e riscos de pemba presentes no chão, mas que também cria desigualdades entre atriz e público. O palco evoca o fantasma de uma igreja, com sua estrutura vertical e hierarquizada. Além disso, a visualidade italiana do espaço do Itaú cria uma zona de representação, no qual o público percebe as entidades enquanto personagens, reduzindo sua complexidade real ao plano ficcional.


Portanto, “Ori” se encontra na encruzilhada entre a importância de ocupar os espaços centrais do sistema teatral e o risco de ser capturada por esse mesmo sistema, viciado na hierarquia e na gramática da representação. A peça também aponta para uma limitação do próprio festival, no qual a maioria das peças são apresentadas em palco italiano, disposição muitas vezes ausente nas cidades e universidades do Brasil.


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