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COMO CAPTURAR A TRAGÉDIA - a partir de “Figueiredo”, de Pedro Vilela

  • Foto do escritor: capivara crítica
    capivara crítica
  • 28 de abr.
  • 2 min de leitura

Uma lufada de palavras - 7 mil páginas para ser mais preciso - faz com que a plateia se volte para o “passado, enxergando-o como uma catástrofe, que sem cessar, amontoa escombros e os arremessa a seus pés”. Através da sua palestra-performance, Pedro Vilela nos coloca na posição de observadores da história, paralisados diante dos crimes narrados pelo Relatório Figueiredo. O genocídio da população indígena registrado pelo seu próprio realizador: o Estado Brasileiro. Nessa posição, nos perguntamos: como nos posicionamos diante do documento do genocídio?


A peça parece responder essa pergunta utilizando-se de uma teatralidade mínima: folhas de papel, fitas isolantes, tocos de madeira, um microfone e o ator, que apenas lê. O pressuposto dessa encenação é de que o documento se basta, e que o próprio contato com esse objeto desconhecido traria a revolta em nós, observadores. Contudo, mais uma pergunta deve ser feita: temos as ferramentas necessárias para ler esses documentos? E se não, a palestra-performance é capaz de lidar com nossas dúvidas e lacunas? Uma das espectadoras interrompeu o silêncio dos observadores chocados e indagou o performer sobre o que seria o pau-de-arara citado no relatório. Ele por sua vez apontou para uma foto.


Essa situação aponta para dois problemas cruciais, um de ordem geral e outro específico: o primeiro é a amnésia crônica sobre o passado brasileiro, provocada sistematicamente por apagamentos, incêndios e assassinatos; o segundo é se de fato a palestra-performance radicaliza ambos os termos. Mas é preciso perceber a existência de uma conexão entre o amplo e o específico. Se sabemos que há um apagamento sistemático da memória brasileira, bastaria a informação para que nos chocassemos diante dos crimes?


Ao trazer para o palco um relatório ocultado por mais de 40 anos, Pedro Vilela realiza a importante tarefa de tornar pública a tragédia. Contudo, ao buscar uma encenação que almeja apenas mostrar o documento, cria-se o risco de um ponto de vista único. Resta perguntar qual seria o ponto de vista sobre o Relatório das próprias vítimas que ele pretende documentar?


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