duas histórias para que não se repita - a partir de “SANKOFA - cantando e recontando histórias do cangaço e da jova”do Bando Jaçanã
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
“Viva a Jurema Preta” começar o espetáculo assim anuncia bem o que o Bando Jaçanã se propõe: olhar para o nordeste brasileiro e o cangaço e vê-lo refletido em suas próprias vivencias na Jova Rural.
Seguindo o pensamento curatorial do @itaucultural, o a_ponte finalizou essa edição com um espetáculo que dá materialidade para o pássaro que voa com o corpo virado para frente, a cabeça virada para trás e um ovo no bico, Sankofa. Como olhar para o passado, voar no presente e cuidar do futuro? Essa pergunta ecoa.
Existe um dado documental que acompanha a peça toda, ainda que a ficção tenha se complementado a ele. O documento ainda aparece em cena, eles fazem uso de áudios e criam, a partir de relatos, personas da realidade. É como se as primeiras pessoas que ouvimos, figuras do cangaço, tivessem se tornado imortais, como se ainda vivessem em cada morador que eles representam no “bar da encruzilhada”.
E eles vão além, recontam as histórias trazendo não apenas a oralidade, mas os signos de religiões de matrizes africanas para que repensemos as histórias que escutamos na escola, e o próprio processo de sincretismo religioso no Brasil. Virgulino Lampião tem feitiço!
Outro olhar crítico que o bando insere no que nos apresentam é o papel da mulher no cangaço. Em nenhum momento eles romantizam o que era. Eles nos contam a verdade, porém deixam claro que, ainda que papéis de gênero fossem reforçados no cangaço, as mulheres escolhiam isso, o tipo de liberdade para estar ali e não mais dentro de casa com maridos abusivos.
O bando jaçanã traz para a cena a ancestralidade nordestina e implementa a relação entre sertão e periferia, para finalizar com um clamor pelo fim da violência.
Uma das cenas mais impactantes da obra é quando todos os atores se juntam para questionar como a violência não nos comove, de maneira ácida, visceral, porém muito honesta, eles nos apontam a nossa insensibilidade, seja com o massacre do cangaço, seja com a violência em um bar da jova em 2017. Cabe a nós, por fim, refletir por que ela não nos comove.

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