E continuamos encobrindo... - sobre “Figueiredo” de Pedro Vilela
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
Lecture-performance, conferência-palestra, palestra performativa, em toda a sua linguagem “Figueiredo” segue arrisca a categoria. Somos apresentados ao título da peça, que nada tem a ver com o Presidente da Ditadura Militar João Figueiredo, mas sim com o Relatório Figueiredo. Um documento que relata as atrocidades cometidas pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio), um órgão criado para a assistência da população indígena em 1910, mas repleto de perversão e crimes.
A relação aqui com a Ditadura Militar se dá na camuflagem. Assim como com os relatos de tortura que tentaram vir à tona com a Comissão da Verdade, nós precisamos olhar para as atrocidades escondidas antes da Ditadura, porque continua-se querendo encobrir tudo.
No campo da performance, o artifício dos tocos de madeira, da demarcação do chão do teatro e a diminuição desse espaço, a cada trecho da dramaturgia, encenam bem o que estamos ouvindo. O barulho da fita sendo arrancada e colocada de volta vai nos enfurecendo, como também deveria nos enfurecer o roubo do território indígena. A respiração da plateia vai ficando pesada de frente com o tamanho da violência que escolhemos fingir que não existe desde que essa terra foi “achada”. Um dos últimos momentos da peça é marcado pela repetição de “nunca esquecer” e o relato de uma violência que massacrou indígenas. Enquanto Pedro Vilela lê tudo isso, atrás vemos vídeos da Marcha Indígena e de outros movimentos de resistência do povo originário. E esse ciclo continua, foi semana passada que Nega Pataxó foi morta, e foi hoje que mais uma vez o Estado Brasileiro se omitiu de realmente agir contra o etnocídio. Por baixo dos panos e fingindo que está resolvendo algo, porque o interesse está na depravação.
Essa peça funciona como denúncia. É uma obra de uma pessoa não indígena para pessoas não indígenas. E ela deveria ser. Porque quem provoca toda a depravação desse território somos nós, quem se omite e não faz nada somos nós. E deveríamos ser nós a nos movimentarmos para, no mínimo, tentar eternamente pagar essa dívida e impedir que mais atrocidades aconteçam.

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