Esperançar pelo presente-futuro - sobre “Bom dia, Eternidade” d’O Bonde
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
Começar em Fininicio para chegar ao que se busca não só no espetáculo, mas na vida: que corpos pretos possam envelhecer com dignidade.
O que vemos em cena é uma amálgama do processo com uma proposta dramatúrgica que se enerva na autoficção, no documental e na homenagem.
Desde o início está anunciada a importância dos objetos em cena. O Bonde chama a nossa atenção para as relações na fala, mas é no corpo que eles nos apresentam tudo que será necessário para contar a história desses 4 irmãos e como eles se conectam com essa antiga casa, com o despejo, com a esperança da carta e, principalmente, com Ela - na sessão de estreia: Elisa Barbosa, nas próximas sessões outros nomes das mulheres pretas com a maior idade na plateia.
É bonito como começo e fim do espetáculo é aquilo que eles sonham para a gameleira e para o terreno que lhes foi roubado.
2 epílogos e uma demora, uma demora para começar de verdade, para aquilo engatar. E aí vem o pensamento sobre o tempo. É uma demora ou é o tempo necessário para entrarmos dentro da casa, o tempo necessário para ouvir o causo de um mais velho, o tempo necessário para conseguirmos olhar para o passado e esperançar pelo futuro? Uma verdadeira encenação de tempo espiralar se desenrolando na nossa frente.
Com o último espetáculo da trilogia da morte, fica evidente o apreço d’O Bonde pela narratividade. Ela é a mais importante. Como ela surge varia do diretor(a) convidado para ajudar na missão de fazer o espetáculo nascer. É interessante como tendemos a associar a “linguagem de um grupo” por aquilo que mais lhes deu visibilidade. E talvez esse seja o mais bonito d’O Bonde, a habilidade de explorar as formas variadas dentro do interesse pela narratividade e alterar suas "linguagens".
Narratividade não é nada fácil. O estudo para viver em dois tempos, contar aqui, mas revivendo o que já foi. E nessa obra então. A história é deles, mas é outra e é a dos artistas músicos. É muita coisa para dar conta de uma vez só. E O Bonde dá conta.
Falar de velhice sendo jovem é esperançar pela eternidade! A pintura de um futuro possível. Um futuro-presente no agora.

.png)




Comentários