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FELIZ É O POVO QUE NÃO PRECISA DE HERÓIS (E HEROÍNAS) - a partir de “Desempregadas” do Matamoscas Teatral.

  • Foto do escritor: capivara crítica
    capivara crítica
  • 28 de abr.
  • 2 min de leitura

O mito, o macho, o messias são figuras que sempre retornam em tempos obscurantistas, nos quais acreditamos que as soluções de todos os problemas estarão em um sujeito todo poderoso. Esse problema tem um lastro histórico no teatro: durante o nazismo, Brecht questionou a necessidade de uma figura heróica em Galileu; na ditadura militar, Boal e Anatol Rosenfeld debatiam o sentido de um herói em um país na periferia do capitalismo; e agora, no rescaldo do bolsonarismo, o Matamoscas encara o desajuste entre o discurso heróico do empreendedorismo e a realidade concreta das mulheres desempregadas no Brasil.


A peça se inicia com o pacto do contra-regra, figura que recusa a mostrar seu rosto e conduz a narrativa, ordenando o deslocamento das personagens no palco. Vemos então uma funcionária de coworking, um recorte específico do desemprego no Brasil: não estamos falando da maioria da população uberizada, mas sim de uma classe média que viu suas funções serem substituídas por sistemas automatizados de gestão de dados. Vivendo entre as cobranças da sua chefe e da pressão de ser igual à funcionária modelo - pela qual ela nutre uma paixão - nossa heroína se vê seduzida pelo discurso de um político de direita que promete emancipá-la das pressões do escritório e torná-la uma cidadã de renome.Assim acompanhamos sua jornada em busca de seguidores na esteira das redes de academia, regada de onomatopeias de quadrinhos de super-heróis e músicas épicas de filmes hollywoodianos. A cada etapa, o contra-regra vem a público explicitar o passo a passo para se construir a verdadeira saga do herói, segundo os manuais de roteiro norte-americanos. A jornada e as explicações também são intercaladas por depoimentos pessoais ficcionalizados das atrizes e atores, nos quais são relatadas experiências cotidianas nas quais elas e eles tiveram o desejo de ser heróis ou vilãs. Deslizando entre o épico, o melodrama e a autoficção, “Desempregada” realiza uma crítica de forma e conteúdo, explicitando como que a jornada de trabalho domestica nosso corpo, enquanto a jornada do herói coloniza nossa imaginação.


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