Julius Caesar - Vidas Paralelas - @ciadosatores
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
Finalizar uma obra com o gesto de preparação para entrar em cena diz muito sobre o que ela é. Julius Caesar - Vidas Paralelas é uma bonita forma de entender as relações de poder do texto de Shakespeare, as contradições de agir pelo que se acredita e o teatro nisso tudo. Enquanto Brutus é o único homem a agir pelo que crê, artistas precisam se automotivar em sua crença no teatro para sobreviver à precarização.
A permanência do teatro continua tendo que ser defendida a cada novo ciclo de governo. A cultura está sempre sob ameaça como a democracia esteve durante todos esse anos, e como o poder romano está na peça. A Cultura é perigosa, não é atoa que na obra um poeta é assassinado ao invés do conspirador. O que a cia. provoca são quase études, estudos, a partir de situações análogas. Começamos a enxergar os personagens de Shakespeare nos conflitos de um grupo de teatro. O “Até você, Edu!” deixa a proposta escancarada.
Existem aqui paralelos com Ensaio.Hamlet (2004) que também partia de um texto de Shakespeare e buscava compreendê-lo em cena. Enquanto lá a confusão era um risco, aqui o contrário acontece, tudo vai se adensando.
Apesar de ainda tímidas, nós conseguimos acessar as dinâmicas de poder atravessadas pela questão de gênero. A frase “ela gosta de provocar ladainha em relação pessoal” ficou martelando na minha cabeça. Será que é isso mesmo ou será que uma direção feminina consegue captar os conflitos mesmo antes deles surgirem porque somos socializadas como cuidadoras e sempre responsáveis pela resolução de conflitos emocionais?
Pelo anúncio da plateia como coro da peça perguntas diretas como “É justificável um assasinato político?” são possíveis e nós ficamos completamente aflitos com a possibilidade de ter que responder à pergunta.
O trabalho dos agitadores sociais também é bastante interessante. É importante vermos a nós mesmos enquanto público mudando de opinião.
E no fim, essa homenagem ao teatro acaba, com um texto belíssimo e um gesto final que de fato consegue suspender a plateia, mantê-la nas mãos e liberar a tensão para o momento final de voltar a colocar a maquiagem para entrar em cena.

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