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Pai contra Mãe ou Você está me ouvindo? - do Coletivo Negro

  • Foto do escritor: capivara crítica
    capivara crítica
  • 29 de abr.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de abr.


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O que acontece quando levantamos um saco de lixo? De duas opções, uma: se ele estiver estirado, levanta-se e vê-se o que ele esconde, se ele estiver fechado, ao levantá-lo, inevitavelmente escorrerá um líquido esverdeado, um chorume.


É nesses dois campos que opera a “Pai contra mãe ou Você está me ouvindo” do @coletivonegro.oficial, com direção de Jé Oliveira. Ao trazer a discussão proposta por Machado de Assis, no conto “Pai Contra Mãe”, para o contemporâneo, e quando no prólogo cita nome e sobrenome (sim, isso é importante) de bisavós, avós e mães, o grupo levanta o saco de lixo e mostra o que está escondido historicamente por baixo da nossa suposta democracia racial. Trazer a origem, com nome e sobrenome, evidencia como a história é recente, não só por trazer para os dias atuais, mas porque, ao fazermos as contas, dos 137 anos desde a abolição da escravidão, percebemos que as pessoas escravizadas são as bisavós e tataravós de quem vive hoje.


Em paralelo a isso, como o chorume que escorre, o coletivo negro, consegue, através de procedimentos épicos evidenciar a contradição no enfrentamento de dois destinos desiguais. Acontece o que acontece hoje, porque vem acontecendo há muito mais tempo. A repetição se mantém.


Diversas vezes, durante a obra, o saco de lixo - materialidade cênica - vai ser levantado, o narrador vai contar a história, trazer comentários críticos passando por baixo dele, e os atores vão dobrá-lo e desdobrá-lo. Isso são imagens. As imagens têm um poder de revelar - poeticamente ou não - qual é o cerne de algo. Também sobre a força da imagem é que, na cena da violência mais explícita, o coletivo, opta por apagar a imagem e trazer apenas o audível - uma estratégia que obriga o público branco a perceber que não tem porque vermos a reprodução da violência no palco, porque temos - infelizmente - no nosso imaginário, a imagem gravada. Já vimos uma porcentagem dessa cena acontecendo, quando ali mesmo, na esquina do SESC Consolação, ao passar no Pão de Açúcar vemos um segurança fitar ameaçadoramente um corpo “suspeito”. (Resta o questionamento de como é a representação auditiva dessa cena para o público negro, para quem a cena imaginada pode ser parte da realidade).


Sobre os “corpos suspeitos”, a videoprojeção nos provoca com as palavras negro/a feliz perigoso/a ao mesmo tempo que os atores executam uma coreografia a partir de gestos cotidianos. Escorre aqui o líquido esverdeado. Não existem corpos perigosos, existem corpos que vão contra o que a supremacia branca quer.


O saco de lixo aqui é símbolo. Desde o prólogo nós sabemos como essa história pode acabar. A cada levantar e chacoalhar do saco de vamos chegando mais perto da possível tragédia escancarada. Parece uma contagem regressiva. E ela acontece. Isso não é escondido e deixa um gosto amargo.


O @coletivonegro.oficial levanta o saco de lixo, deixa escorrer o chorume, mas também termina a peça deixando em evidência, na projeção, várias referências que precisamos estudar! Esse é um gesto importante! A resposta tá ali. Tudo que assistimos é discutido nos livros e textos que eles projetam. São essas as últimas imagens da peça! Que entendamos que precisamos passar para o próximo capítulo, que precisamos ir atrás da educação e do letramento racial para invertermos quem se mantém no poder.

 
 
 

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