O TEATRO COMO FRONTEIRA - a partir de “eXílio” do Coletivo Comum
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
A palavra exílio nos remete a um espaço distante, algo que dificilmente se passaria com nós, muito comum aos outros. A palavra exílio traça uma linha não só geográfica, mas também no nosso imaginário. E geralmente nos imaginamos do lado de cá da linha. Contudo, quando uma atriz pergunta “de onde vocês são?”, percebemos que a minoria do público é de São Paulo. A linha imaginária se aproxima e se concretiza. Vemos que o exílio não é algo tão distante, mas é algo que acontece com você e com as pessoas sentadas ao seu lado.
Esse parece ser o objetivo do Comum: deslocar as fronteiras que compõem nossa visão de mundo. Para isso são dispostos materiais de diferentes origens, que são narrados pelas atrizes e atores a fim de ampliar nossas concepções de exílio. Assim, vemos peça por peça a maquinaria da crise de acolhimento - uma vez que a migração e o refúgio não é o problema, mas sim os países que fecham suas fronteiras. Vemos os botes, as cartas, os acordos, os coiotes.
Mas também vemos um jogo de tênis entre exiladas fiscais. E percebemos que entre os exílios também existem fronteiras. Uns vão a jato para paraísos em ilhas caribenhas, outros de barcos infláveis para campos de concentração em Lampedusa. Ambos os pólos estão em deslocamento, mas nem por isso são iguais. Essa imagem contraditória permite que a exploração exaustiva do tema saia de uma abstração filosófica e ganhe concretude nas desigualdades sociais.
A participação do público radicaliza esse aprofundamento no real, na medida em que percebemos as diferentes localidades que habitam aquele mesmo campo de jogo. Esse caráter de obra aberta extrapola os jogos formais, passando a se constituir como mecanismo empático para a aproximação entre contextos diversos. Utilizando o distanciamento brechtiano, o Comum nos faz ao mesmo tempo entender as estruturas sociais e nos emocionar com canções vindas de outros continentes. Com isso, se instaura uma relação de identificação crítica, na qual o público é capaz de transitar livremente entre uma análise detalhada e uma emoção profunda. Nada mais acertado para uma peça que

defende um mundo sem fronteiras.
.png)




Comentários