O TERCEIRO EXCLUÍDO DO TEATRO POLÍTICOSobre “O poder da loucura teatral” da Cia. El Charchazo
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
“Esta é uma obra de uma única cena”. Não há mistério. Desde o início, o público, através de uma música, compreende que o que se verá são as tentativas de explorar variações do mesmo. Assim, vemos vinte vezes a mesma atriz que retorna para confrontar a produtora de um casting. Vinte vezes tenta, vinte vezes é rejeitada. O problema central da cena é o trabalho teatral em meio a uma cidade latino-americana convulsionada por demandas sociais. Os desejos e impedimentos do trabalho em nosso contexto.
Mas as mudanças muito concretas nos elementos da palavra, do corpo, do espaço e do tempo vão modificando a cena, gerando distintos significados e sensações no público. Assim, o público começa a compreender sensivelmente a intrincada relação entre forma e conteúdo. Mudar o idioma da cena altera as compreensões de poder. Coralizar um personagem faz com que ele ganhe relevo social. E a cada procedimento, o público começa a se tornar um especialista na composição teatral, analisa as mudanças e identifica erros, mas compreende que o erro não é nada mais que uma nova forma de fazer a cena.
Assim, poderíamos dizer que a politicidade da obra está justamente nessa relação entre forma e conteúdo, na qual tematicamente discutimos o trabalho teatral e, na sua forma, oferecemos as condições para que o público manipule os mecanismos de composição cênica. Mas há um terceiro excluído dessa equação forma-conteúdo. Esta obra foi apresentada na ocupação do Instituto Profissional Arcos, ameaçado de fechar por cortes dos repasses que o Ministério da Educação destinava à escola. A reivindicação dos estudantes é o direito de estudar; o direito de fazer teatro.
Nesse sentido, a apresentação da obra — que uma certa corrente do teatro político julgaria como elitista e formalista — se converteu em um agit-prop que ressignificou o sentido da ocupação a partir da excelência apresentada em cena. Assim, a politicidade de uma obra está na interação dialética entre forma, conteúdo e contexto.

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