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QUANDO COISAS VIRAM SERES - sobre Vaga Carne, de Grace Passô

  • Foto do escritor: capivara crítica
    capivara crítica
  • 28 de abr.
  • 2 min de leitura

A plateia lotada conversa. As luzes estão acesas. Ouvimos algo que parece ser os avisos iniciais do espetáculo. Aos poucos, vamos reconhecendo palavras que fogem dos clássicos “desliguem os celulares.” e nos damos conta que já começou. Já começou a muito tempo, desde o momento em que o público chegou três horas antes do início para conseguir um lugar. Ou começou antes, quando aquelas cadeiras foram construídas por outras pessoas, como a Voz nos relembra durante a peça.  A mesma voz que nos faz ver sujeitos onde antes víamos apenas objetos. 


Esse é o grande gesto político e poético de “Vaga Carne”: tornar o acontecimento teatral em um acontecimento de produção de sujeitos. Para isso, todo aparato cênico precisa ser reposicionado. Uma parte do público sobe ao palco. As/os demais espectadoras/es que permanecem na plateia se vêem representadas/os na cena, tomando consciência de sua participação no acontecimento teatral. Um dos refletores pende sobre o palco e ao mesmo tempo que ilumina também é iluminado. A luz ganha poder de agência sobre a cena, tornando visível e invisível partes do corpo e do espaço. Contudo, aqui a invisibilidade não é sinônimo de inexistência. Quem está invisível não está em lugar nenhum, mas sim em toda parte. O breu se torna “um campo onde não há um olhar dominante capaz de recortar corpos como objetos”, como nos conta Jota Mombaça em seu texto sobre o escuro e a não representação. Sem luzes, a voz se espalha por toda cena, deixa de ser a enunciação de uma personagem e se torna fala coletiva daquelas que foram silenciadas.


 Ao mesmo tempo que coletiva, a voz específica seu lugar de enunciação: “Eu já sei quem ela é! Eu já sei! Ela é uma mulher, ela é negra…”.  A partir desse momento, a tensão entre sujeito e objeto é redimensionada historicamente. Dessa forma, Grace demonstra como a palavra se tornou instrumento de objetificação de milhões de pessoas durante a colonização. Se os portugueses invadiram terras, a Voz provoca o público: “Vamos invadir o corpo dessa mulher com palavras”.  Mas a palavra também pode reverter esse processo, transformando seres objetificados em sujeitos.


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