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QUANDO O ABSTRATO GANHA CORPO - sobre “Figura Humano”, do Tercer Abstracto

  • Foto do escritor: capivara crítica
    capivara crítica
  • 28 de abr.
  • 2 min de leitura

Uma pessoa observa o público. Cruza diagonalmente o espaço. Para no centro. Arruma o cabelo e segue até o microfone. 


Aí está a base de onde parte a profusão de gestos, sons e  deslocamentos que compõem a complexa arquitetura social mobilizada pela figura humana. Vemos como gradualmente uma torção no polegar pode se transformar em um sinal positivo, um coração, uma arma e como isso se torna um dia na praia, um encontro ou um levante político. É uma operação de mão dupla: reconhecer um fundo social em composições, aparentemente, apenas visuais; e identificar padrões de composição em situações do cotidiano. 


Assim, há um deslocamento do conceito de abstração, que deixa de ser algo alheio à realidade e passa ser justamente uma maneira de olhar e agir sobre o real. Para isso, a peça é construída pedagogicamente, treinando a percepção do público para interpretar os padrões composicionais que regem o palco. Pelo microfone, ouvimos as reflexões e perguntas sobre as linhas, as torções e os deslocamentos, enquanto na cena observamos demonstrações desses gestos, que aos poucos vão ganhando complexidade até se emanciparem das indicações propostas pelo texto. Nesse momento, as palavras cessam e ganha relevo a composição musical, ela também regida por linhas, torções e deslocamentos que informam padrões sociais. Buzinas, panelaços, tamborins, Ls e cacetetes se misturam e sobrepõem, compondo um panorama da realidade brasileira, mostrando uma apropriação nada europeizante das teorias do pintor alemão Oskar Schlemmer. 


Dessa forma, o que, num primeiro momento, poderia ser visto como uma discussão nichada sobre o que é a Arte, passa a ganhar amplitude social e interesse mais amplo, na medida em que reconhecemos sua aplicação sobre situações identificáveis no nosso cotidiano. A abstração é apropriada como ferramenta para justapor elementos díspares, e com isso revelar as múltiplas relações que os gestos estabelecem entre si. Arrumar o cabelo e um tapa na cara. Levantar o braço e uma queda. Tirar uma foto e um tiro. Para esse teatro, o que interessa não é o gesto isolado, mas sim o conjunto de interações.


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