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QUE TEMPOS SÃO ESSES EM QUE VENDEMOS NOSSAS HISTÓRIAS? - sobre E lá fora o silêncio, do LABTD

  • Foto do escritor: capivara crítica
    capivara crítica
  • 28 de abr.
  • 2 min de leitura

Enquanto espera o início do espetáculo, o público ouve uma música de elevador. Da porta lateral, surge uma pessoa que anuncia uma rodada de pitchings para a venda de projetos audiovisuais. “Agora chamamos ao palco o projeto Cartas Prisioneiras (acende um painel com a contagem do tempo: 11 min.)”. A série narra cartas trocadas entre presas/os políticas/os durante a ditadura militar, contudo apresentadas na chave melodramática. Assim, Cristofer - personagem que mescla a história do poeta Anderson Herzer e do ator Léo Moreira Sá - juntamente com seu sobrinho - vivido pelo ator Diego Chilio - apresentam o projeto como “uma série que vai arrasar os corações com ação, suspense, paixão, traições, e, acima de tudo, fé”. Tudo caminha para uma romantização dos conflitos e da resistência, até que emerge da plateia a figura de uma guerrilheira - vivida pela atriz Jessica Marcele - recuperando o discurso de Marighella na Rádio Nacional e denunciando as contradições presentes no projeto da série. E tudo isso diante do olhar vigilante da banca reguladora da rodada de negócios.


Esse é o retrato cruel da situação das/dos artistas após o desmonte das políticas culturais provocado pelo governo Bolsonaro. Sem iniciativas públicas, as/os trabalhadoras/es da cultura precisam se tornar vendáveis, palatáveis, agradáveis aos streamings. E para isso precisam pacificar suas narrativas de resistências, tornando-as novelas mexicanas ou narrativas de um herói único. No contramão, a peça propõe procedimentos épicos, em que o enquadramento do pitching é rompido para estabelecer um diálogo direto com a plateia, articulando as interesecionalidades entre o movimento trans, o movimento negro e a guerrilha durante da ditadura. Nesse sentido, é importante ressaltar que o espetáculo só pode se efetivar através do edital de Peças em Processo, do TUSP, e da 14ª Edição do Prêmio Zé Renato, demonstrando que os apoios públicos são essenciais para que fujamos das narrativas pacificadas, permitindo que se construam espaços de pesquisa e reflexão crítica para que o cronômetro de 11min cesse de nos censurar.


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