VOLTE E PEGUE - sobre “Erupção: o levante ainda não terminou” - Coletiva Ocupação
- capivara crítica
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
9 de outubro de 2018. 1º turno da eleição. Itaú Cultural. Um coro de jovens ocupa a Av. Paulista para encerrar o espetáculo “Quando Quebra Queima”. Um jeep branco raivoso acelera. Uma mulher loira grita: “Petistas vagabundos!”.
15 de novembro de 2022. Sesc Av. Paulista. Antes de entrar no espetáculo “Erupção: o levante ainda não terminou”, várias pessoas vestidas de verde e amarelo passam na calçada depois de participarem de uma manifestação golpista.
Quatro anos e uma faixa de pedestre distanciam essas duas cenas. Um abismo muito próximo. E desse abismo vimos emergir as figuras mais aberrantes da sociedade brasileira. Contudo, a Coletiva vem à cena nos lembrar que há um rio de magma sob nossos pés; que as heranças das revoltas continuam vivas, por mais que apagadas dos livros de história; e que as lutas encampadas nas escolas públicas em 2016 seguem pulsantes no corpo das pessoas em cena.
Se em 2018, a Coletiva criava uma poética vinculada ao depoimento pessoal, no qual as diferentes perspectivas sobre as ocupações compunham um corpo coletivo heterogêneo; agora, em 2022, as/os/es atuantes se voltam para outras experiências revolucionárias por meio da citação de textos de origens variadas. A citação ganha aqui profundidade histórica na medida em que permite o diálogo entre vivos e mortos; permite a atualização, em cena, das palavras escritas por outras mãos; permite que a gente volte e pegue, como propõe os povos Acã por meio do adinkra Sankofa. Dessa forma, a citação em cena ganha corpo e potência transformadora, fugindo de qualquer academicismo.
Contudo, a estrutura fragmentária e episódica das cenas dificulta a compreensão do desenvolvimento histórico dos acontecimentos evocados pela coletividade. Assim, não sabemos ao certo qual foi o estopim da Revolta dos Malês ou como se desenvolveu a Revolução do Haiti. Se por um lado não temos acesso a essas informações através da cena, por outro a Coletiva retira desses eventos o seu ensinamento central: que as transformações sociais sempre são coletivas e envolvem os viventes, os antepassados e os que virão. E é isso o que vemos em cena

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