CRÍTICA CONTEXTUALIZADA E CONTEXTO CRÍTICO - sobre o debate após Dragon, de Guillermo Calderón

O debate é aberto com a crítica Daniele Ávila Small dizendo: “temos pouco tempo”.  Diante dessas condições, as chances de um debate frutífero ser rapidamente substituído por afirmações categóricas aumentam exponencialmente. Não pretendo tecer uma crítica às críticas envolvidas na mesa nem às/aos artistas chilenas/os que apresentaram o espetáculo. O que se busca com esse texto é apontar os entraves das ações formativas em um festival de ritmo intenso e acelerado, como é o MIRADA. As 36 obras espalhadas em uma programação de 10 dias possibilitam um panorama das Artes Cênicas Ibero-Americanas, trazendo consigo as vantagens e desvantagens que uma mirada panorâmica pode ter. Como um sobrevoo, o panorama impede o aprofundamento, que surge exatamente no momento em que o texto - ou o espetáculo - ganha espessura por meio do seu contexto. Saber que a escravidão no Chile foi apagada dos livros escolares, que a população negra chilena foi reduzida à 0,1%, que só em 2021 o país promulgou uma lei reconhecendo a participação negra na construção do país e que poucos dias antes da apresentação a nova Constituição Chilena havia sido desaprovada são condições essenciais para entender porque determinados temas aparecem de determinadas maneiras no espetáculo. Para criticarmos o texto/espetáculo precisamos entender o contexto crítico no qual ele se insere. Contudo, a estrutura acelerada dos festivais bem como uma educação escolar e universitária voltada para a Europa impedem que haja espaço para pesquisas sobre as condições materiais nas quais as obras latinoamericanas são produzidas. Isso produz uma disjunção crítica, na qual lemos obras estrangeiras seguindo parâmetros estabelecidos a partir das condições brasileiras de produção artística, gerando mal entendidos

que agravam as distâncias, criadas pela colonização, entre países tão próximos.